Redutos de cultura. Espaços de lazer. Pontos de informação. Os sebos são locais onde o cliente pode passar momentos agradáveis, se “desligando” da correria do dia a dia, na busca por um livro, revista ou disco antigo... ou, num lugar onde se encontra de tudo, procurar nada em especial, apenas fuçar nas prateleiras e, de repente, achar alguma obra que chame atenção.
Os sebos, para alguns, estão com os dias contados – a literatura e a música de qualidade também estariam. O fim dos sebos seria apenas o reflexo da diminuição do interesse pela leitura e pelas boas canções de antigamente.
Em Uberaba, porém, alguns teimam em continuar existindo. Bom para quem procura um livro ou revista específicos e não quer pagar caro nas lojas virtuais ou não acha em outro local. Melhor ainda para quem vai aos sebos não porque “precisa” do produto, mas porque, sem saber em que obra exatamente, quer encontrar uma boa leitura – e só na hora descobrem qual.
O sebo “Amigos do Livro” é o maior em número de exemplares em Uberaba. São 25 mil livros, dos mais diversos tipos e assuntos, segundo a proprietária, Lizandra Castro. Tem literatura nacional e estrangeira, livro didático, manuais, obras científicas, livretos, romances, enciclopédias, enfim, a variedade é grande. Tudo acomodado na garagem e na sala de uma casa.
Lizandra sempre gostou de leitura. Há dez anos, ela tinha mais de 600 livros e resolveu vender todos para, com o dinheiro, comprar um carro. Acontece que, ao oferecer todos os exemplares de uma vez a uma livraria, ficou frustrada com o preço que ofereciam pelo montante (cerca de R$ 300). Decidiu, então, colocar uma mesinha em frente a um supermercado e ir vendendo aos poucos. “No primeiro dia, vendi uns 300 livros. Aí vi que poderia trabalhar com isso”, recorda.
Fisioterapeuta por formação, tendo feito também um curso técnico de trânsito, Lizandra trabalha com o que gosta e se sente realizada. Para ela, que teve a mãe como exemplo de leitora, hoje o público jovem não está muito ligado em leitura. “Até tem crianças que gostam, mas a maioria que vem aqui é ‘empurrada’ pelos pais”, comenta.
No seu sebo, os clientes encontram livros de R$ 5 a R$ 300, dependendo da raridade da obra. A loja só vende. “Não troco porque muitas vezes a pessoa não entende o valor do livro. Um fininho pode custar bem mais caro que outro grosso, por exemplo”, diz ela.
Entre tantos modelos, um cantinho tem uma enciclopédia Barsa, um clássico de outros tempos. Será que ainda há interessados em um produto do tipo? “Sim. Muitas pessoas compram como enfeite, usam para decorar a casa”, afirma a empresária.
Sebo Amigos do Livro Rua Juca Marinho, 75 – Mercês Telefone: 3313-7422 Funciona de 2ª a 6ª das 10h às 18h, e aos sábados das 10h às 14h
Sebo da Jozi Rua Tristão de Castro, 185 – Centro Telefone: 3317-6060 Funciona de 2ª a 6ª das 12h às 19h, e aos sábados das 9h às 13h
Quando funcionava no Camelódromo, a Banca Reta Final era destino certo para quem quisesse comprar ou trocar gibis, revistas de mulher pelada, livros de bolso e discos de vinil. A banca mudou de endereço – e quase que totalmente, de ramo também. Agora, o cômodo na avenida Bandeirantes tem de quase tudo. Utensílios de cozinha, cintos e acessórios, aparelhos de videocassete (vendidos por R$ 30), televisões, aparelhos de som, carregadores de celular, ferramentas e uma infinidade de quinquilharias dividem espaço. Os vinis não foram esquecidos. Vitrolas e até uma craviola (uma espécie de guitarra de 12 cordas, ou seis cordas duplas, como queiram) também estão à venda. Ah, e tem revistas, também!
A mudança no estoque foi inevitável, afirma o proprietário, Júnior. O motivo é que o público leitor está rareando cada vez mais. Depois do Camelódromo, Júnior se instalou na avenida Saldanha Marinho e ali começou a mesclar as mercadorias. Na Bandeirantes, os discos, gibis e revistas já são minoria. “Agora não é mais sebo, virou brechó”, diz o dono.
Outros tempos. As revistas adultas hoje ficam encalhadas. “Depois da internet, foi uma decadência”, diz Júnior. O público não se renovou. “A mulher que lia os romances, não tem tempo: a filha casou e agora ela tem que cuidar dos netos. E os mais jovens não querem saber de ler”, explana.
No sebo (ou brechó), as revistas estão escondidas em um canto. Em outro, os discos de vinil. Tem também as notas e moedas antigas. E mercadorias que ficam fora da loja. “Outro dia comprei duas galinhas, aqui tem de tudo”, conta um cliente, que, além das penosas, já achou algumas raridades na coleção de vinis, como “um duplo, importado, do Elvis, já no fim de carreira”. O jeito é contar com os fregueses fiéis e vender outras coisas para não fechar as portas. “Gosto de coisas antigas, vou continuar com minhas velharadas”, conclui Júnior.
Banca Reta Final Avenida Bandeirantes, 160 – Gameleira Telefone: 98888-4518 Funciona de 2ª a 6ª (exceto 4ª) das 8h30 às 18h, e aos sábados das 8h30 às 14h
Em um cômodo discreto e acanhado, com um letreiro meio apagado e uma placa com os dizeres “Revista usada”, fica a Banca Boa Vista, que o proprietário, Carlos Eduardo, vai renomear para “Sebo Boa Vista” quando reformar a fachada. Carlos, que trabalhava na construção civil antes, é irmão de Júnior, da Banca Reta Final. Foram sócios no sebo que funcionava no Camelódromo, mas encerraram a parceria e, há oito anos, ele toca sozinho o negócio.
O Sebo Boa Vista tem milhares de gibis e revistas. Deve ser o único “sobrevivente” do ramo de revistas usadas em Uberaba, já que nos outros o forte são os livros. Aqui tem livros também, afinal, não podem faltar num sebo os romances “Júlia” e “Sabrina”. Mas o acervo é composto em sua maioria pelas revistas antigas. Tem Playboy, Placar, Super Interessante e os gibis de faroeste do personagem Tex. Há espaço também para vinis e DVDs originais. O sistema é de compra e também de troca “dois por um”.
Assim como o irmão, Carlos comenta que já foi o tempo das revistas de mulher pelada. “Hoje tem tudo no celular”. A fase de ouro dos romances também ficou pra trás e ele usa o mesmo argumento de Júnior. “As leitoras de antigamente hoje têm que cuidar dos netos. Essa pilha aqui, ninguém mexe faz tempo”.
Os fregueses fiéis mantém o comércio. “Aqui não tem movimento como no centro, que as pessoas passam e podem entrar para ver. Só vem quem conhece”, afirma.
Sebo Boa Vista Avenida Thomaz Bawden, 37 – Boa Vista Telefone: 98814-0083 Funciona de 2ª a 6ª das 9h às 18h, e aos sábados das 9h às 15h
Lembranças da Biblos
Na esquina das ruas Vigário Silva e Segismundo Mendes, no coração da cidade, durante muito tempo funcionou a Biblos, que oferecia serviços de copiadora. Mas isso era o de menos, porque bom mesmo era o sebo, muito bem servido. Gibis da Turma da Mônica, Disney, super-heróis, Tex e Zagor fascinavam leitores de todas as idades. As revistas de sátiras, como Mad, também eram atração. O estabelecimento vendia e também trocava e, para os amantes de tais publicações, era ponto de visitas constantes.
Há anos, porém, o sebo fechou, e o espaço hoje não tem mais o cheiro de mofo, apenas o clima de burocracia com cópias (coloridas como os gibis da Marvel ou preto e branco como as revistas Tex), plastificações, consultas na internet... e, para quem frequentava o local antigamente, a sensação de nostalgia.
Por acaso, encontramos um ex-sócio da saudosa Biblos. Em nossa visita à Banca Reta Final, conhecemos Odilon Vieira, o cliente que comprou as galinhas do Júnior. Odilon trabalhou na firma durante 12 anos, e, por dois anos, foi sócio de Juarez, o outro dono, que, vendo que os leitores estavam minguando, fechou o sebo “sem choro nem vela” e teria se aposentado. Odilon também é amante das revistas antigas e fala com pesar do passado.
A tecnologia fez sumir muitos consumidores da leitura no papel. Ficam as saudades e, para os mais sortudos, as lembranças de bons negócios, quando conseguiam comprar ou trocar um exemplar raro na Biblos.