Tati veio de Guaxupé, onde o dirigente Nenê Mamá o descobriu na Esportiva. A mãe de Tati, dona Bárbara, antes da viagem do filho, entregou a ele um canivete e disse: “Se esse homem mexer com você, enfia o canivete nele”.
Não foi preciso. Nenê Mamá, que andava por diversas plagas procurando jogadores de talento, trouxe Tati em segurança, de jipe, pelas “estradas de chão”. Chegando ao clube, o meia foi morar no alojamento embaixo da arquibancada.
Naqueles tempos, grandes times vinham ao Triângulo enfrentar o Zebu. Em jogo com o Botafogo, Tati fez um gol de falta, no estilo “folha-seca”, marca registrada de um craque botafoguense. “Vieram ver Didi e viram Tati”, diziam os jornais.
O craque do Colorado foi jogar no Palmeiras de Oswaldo Brandão e depois no Inter de Porto Alegre, mas não ficou no Sul por causa do frio, que prejudicava a saúde da esposa, Maria Áurea. Voltou pro Uberaba e encerrou a carreira no Nacional. Depois da bola, foi trabalhar como representante de laboratórios farmacêuticos.
O apelido Tati veio do irmão Nelson Badão, que não conseguia falar Walter, falava “Vati”, e acabou ficando “Tati”. O meia, cerebral, só não teria sido convocado para a Seleção Brasileira porque, na época, iam só os jogadores do eixo Rio-SP. Certa vez, a Seleção Mineira, com Tati, meteu gol na Seleção Brasileira, e nem no jornal saiu.
Sempre muito clássico, Tati recebeu de Netinho o apelido de “fita métrica”. Um detalhe é que o jogador era destro, mas depois que machucou o dedão na rua, começou a bater com a esquerda e ficou melhor com a canhota.
Tati não era fácil. Em uma ocasião em que o USC não estava pagando, ele bateu o pé até acertarem o que deviam. O clube queria pagar só ele, que foi saindo e avisando os companheiros: “Vocês vão lá e recebam”.
Sem pestanejar, o ex-jogador não hesita em detonar a “roubalheira” que sempre existiu para ajudar os times da capital. “Era sempre um roubo. Tinha a tabela dirigida, se você perdesse em Belo Horizonte tinha que jogar de novo lá no returno, só se ganhasse os times de lá vinham aqui. Uma vez, acho que contra o Villa Nova, fiz um gol olímpico e o juiz deu impedimento”.
Em uma pasta onde guarda lembranças dos tempos de jogador, um jornal ressalta a atuação de Tati numa vitória do USC sobre o Atlético, por 3 x 0, em 1961. A matéria diz que “Tati alugava o meio-campo, destruindo os ataques rivais e ‘alimentando’ seus companheiros com passes certeiros e matemáticos”. Nas notas dos jogadores no jornal, Tati ganhou 10. Além dele, só o defensor Canindé, outro craque, levou nota máxima (“quer como lateral, quer depois quando foi para o pivot”, dizia a matéria). Tati foi, segundo o texto, a maior figura em campo, indiscutivelmente. Encerra a reportagem, sobre ele: “Ladrão” do filme, ‘roubou’ o espetáculo para si. Um gigante.”